segunda-feira, 9 de junho de 2014

entre as luzes e as sombras

Foto: Yara Ribeiro
Quem faz teatro está ou então deve estar acostumado com momentos de muita luz, mas nunca deve, porém, olhar com maus olhos a imensidão fria das sombras. Andar por essa dualidade é um caminho, um caminho sem volta, um caminho no qual você tem duas opções: ou desiste e para onde ficou, deixando para trás esse mundo, ou persiste e continua perambulando por caminhos cada vez mais escuros, hora iluminados. E isso é bom, acreditem.

Foto: Bianca Elias
Espaço é sempre um problema e uma solução. Você ocupa, mas é mais do que um espaço, e seu corpo é mais do que seu corpo. Tem que dar conta de tudo, tem que preencher todo o espaço, tem que ser onipresente, onipotente, tem que ser cada taco, tem que ser cada tijolo: tudo tem que estar sempre bem estruturado, assim como você. Ele pode cair a qualquer momento, se você permitir, e não lutar contra isso. Podem tentar derrubá-lo, colocá-lo a baixo, e você tem que se colocar na frente e, se necessário, cair junto com ele, para depois se reerguer. 

Corpos também são uma bênção e uma maldição. Estão todos juntos, mas dentro de cada um há um mundo novo, com outras visões, com particularidades, e nenhum deles manda em ninguém, cada um manda em si mesmo, mas aceitam acordos, de vez em quando. A briga por ser você sendo muitos e a briga por ser muitos sendo você é constante, mas positiva. Tudo isso, por mais sangrento e dilacerante que seja, no fim, é positivo, e tudo vale a pena, na trajetória. 

Não gosto quando as pessoas deixam escapar que teatro é um lazer. Que teatro é pura zoeira, é só alegria. Não é. Com os mesmos dentes que você sorri, você morde a própria língua e cospe sangue, com a mesma garganta que te faz gargalhar, você engasga e soluça de tanto chorar por aquele coletivo, por mais um planejamento que ficou só na imaginação. Teatro é pura alegria sim, mas também é pura dor, puro ponderamento, muitas lágrimas, e momentos em que parece que nada disso levará a lugar algum. Porém, no fim das contas, o que fica na memória são mais as risadas mesmo, e aquele frio na barriga do qual ninguém está livre (e nem deve) de sentir. Aquilo é o que nós somos de verdade. Isso sim é viver! Chapéu vazio, alma cheia.
Foto: Bianca Elias

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