domingo, 28 de dezembro de 2014

sobre nosso primeiro espetáculo

Foto: Jéssica Ueno

Eis aqui uma coletânea de depoimentos de membros da trupe em relação à estreia de nosso primeiro trabalho: Gatilho Verbal, que esteve em cartaz no Ateliê Compartilhado Casa Amarela nos dias 6, 13, 20 e 27 de setembro de 2014. Se você viu a peça, essas são algumas percepções e informações bem interessantes sobre nossa história, mas, se não viu, pode ler do mesmo jeito.

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Anna Carolina Lucas 
Foto: Jéssica Ueno
A experiência - "O momento da apresentação, o nervosismo, a ansiedade, o medo de errar, mesmo tendo ensaiado por um ano ou até mais, mil coisas nos passam pela cabeça, algumas delas que poderiam nos fazer desistir a qualquer momento, mas também que acabam por muitas vezes sendo o que mais nos motiva a continuar e jamais desistir. No final, é um alívio ver que tudo saiu exatamente como esperávamos, e se por uma vez ou outra não foi bem assim, bem faz parte! 
Foi um sentimento único de alegria que todos nós compartilhamos naquele momento, fazendo aquilo que estávamos sonhando juntos há um tempo, desde o improviso a melhor performance que tivemos, estávamos juntos, ligados por uma corrente de palavras e desejos que nos beiram entre a mais bela canção e o abismo, entre a melhor apresentação e o fracasso. Estávamos naquele instante ligados pelo Gatilho!"

Dorminhoca - "Dormindo de olhos abertos. Essa personagem ignora quase tudo à sua volta, traumatizada pelo que passou na clínica, passa a agir de maneira pior do que quando entrou. Ela não aceita que está ''curada'', até porque não está, sendo que não entendeu nada do que aconteceu na terapia, provavelmente porque devia estar sonhando o tempo todo! 
Dopada e sem entender nada de nada, passa a vagar por aí fazendo tudo que a mandam. Esta é a Dorminhoca!"

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Dan Elias
Foto: Jéssica Ueno
A experiência - "Se expor é sempre bom e ruim. Tanto expor sua imagem, sua voz e seu corpo, quanto as entranhas profundas de sua alma. E foi tudo isso que expus em "Gatilho Verbal", que escrevi, dirigi e atuei, ao lado de meus colegas de grupo, que são pessoas e artistas mais do que especiais para mim, e que fizeram tudo ser perfeito na imperfeição que é a vida. Foi uma entrega total, não só da minha parte, mas de todo mundo! Via todos se esforçando ao máximo para se jogarem nesse projeto, para enlouquecerem e se desprenderem de seus corpos e receber a energia pesada e ao mesmo tempo divertida dessas personalidades malucas e ao mesmo tempo tão comuns a quem demos vida nessa temporada de estreia. Foram quase dois anos completos de ambientação, estudo, lágrimas, riso e muita história pra contar, e sou muito grato a todos que se juntaram a mim nessa terapia em grupo. Tirei um peso gigantesco de dentro de mim: era para essa peça acontecer, e era para ser com vocês!"

Sódó - "Me faz mal fazer o Sódó. Muito mal. Ele é uma parte obscura minha, uma parte que eu tento prender: por vergonha e orgulho. Mas foi ótimo expor esse lado, encará-lo de frente, e esquecer de mim enquanto estou vivendo esse músico minimalista e perturbado. Fico muito à vontade segurando esse violão, mostrando esses questionamentos que parecem bobos, mas que podem ferir tanto que deviam ser debatidos constantemente nas rodas de conversa. Esse personagem estava preso, mas estava sempre aqui. E ele continua vivendo, mas agora caminha mais leve, e se aceita melhor."

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Yara Ribeiro 
Foto: Jéssica Ueno
A experiência - "A Trupe Gatilho Verbal é um grupo formado por jovens com turbilhões dentro de si vivendo momentos distintos e importantes na vida de cada um, já se foram quase dois anos de luta ela independência artística, confiança e credibilidade no nosso trabalho (que tem os traços de cada um dos membros e colaboradores amigos) e a estreia foi o passo planejado por todo esse tempo para tingir esses objetivos, a partir dele se segue toda uma caminhada, e estamos crentes de estarmos no caminho certo. O momento de estreia, mesmo sendo inédito para uns e já vivido por outros, nos afetou de forma conjunta. Independência, aflição, nervosismo, felicidade, aconchego, tensão, foram alguns dos sentimentos vividos, a emoção minutos antes das apresentações era tamanha, um ápice do nosso estado emocional que logo se estabilizava com a chegada do personagem em si. Ao final, o corpo apesar de exausto sentia a leveza da realização, é de fato impossível descrever efetivamente essa experiência, digo apenas que esse foi um grande impulso para seguirmos em frente sem receios, pulando os bloqueios juntos de mãos dadas."

Arlete - "Faço a personagem chamada “Arlete”, secretária do escritório do Dr. Psicolouco. Demorei um tempo para conseguir compreende-la, e achar seu corpo e seus gestos nos meus, afinal era uma personagem sensual e madura para uma garota baixinha e desajeitada, no entanto quando menos esperava logo a Arlete estava em mim e eu nela, e assim se fez uma mulher sensual e desajeitada. Arlete é gananciosa e romântica, mas com seus níveis emocionais instáveis, é uma mulher moderna, herdeira de ideologias tradicionais."

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Junior Azuos
Foto: Jéssica Ueno
A experiência - "Desde que entrei para a Trupe, há quase um ano, notei de cara o quanto a peça Gatilho Verbal despertava expectativa e dedicação de cada um dos membros. Todos sempre descobrindo e refletindo seus personagens e a trama como um todo, dissecando trecho por trecho e encontrando sentidos novos para as cenas, falas, passagens e etc.
Estar dentro de um grupo onde as ideias se completam e a sintonia é uma energia sem fim que ronda todo mundo, não poderia dar em outra coisa a não ser nessa temporada massa em que colocamos à mostra um trabalho feito com tanto suor, tanto cansaço mas, principalmente, tanta alegria, dedicação e, sem clichês, amor. 
Fazer parte deste espetáculo complexo de ser entendido – o que o faz sempre bom de ser revisto e seu texto relido – foi um passo muito importante para me descobrir um pouco mais como ator e tentar ousar mais além, ainda que eu esteja no início e seja cru na arte de falar através do corpo, não há dúvidas do gosto de quero mais que a trupe a peça Gatilho Verbal me deixaram e me deixam a cada ideia, projeto, discussão e sugestões que compartilhamos.
Não posso deixar de destacar também nosso palco alternativo que foi o Ateliê Compartilhado Casa Amarela, que de local para ensaio tornou-se local de apresentação e um verdadeiro cenário que só acrescentou muito para o enredo! Foi meu segundo espetáculo e o primeiro itinerante, e a sensação dinâmica que causa é incrível! Claro que quero apresentar esta peça em outros tipos de palcos e junto de toda a trupe repensando partes da peça de acordo com o local, mas essa primeira vez, esse nascimento, foi único."

João Sofredor - "É um personagem que foi me cativando aos poucos, mas desde o início uma imagem clara de rapaz abobalhado foi me guiando no processo de construção. Por fora, sorridente, feliz, de bem com a vida, alto astral, bem humorado... O tipo comum de companhia que as pessoas dizem estar sempre em busca, entretanto, sua verdadeira face é triste, frustrada e conformista para tentar não sofrer o que sempre sofreu por dentro, sem perceber o quanto sua falta de vontade de ir atrás do que queria, ou de entender até onde poderia ir com aquilo que gosta (futebol) estava lhe corroendo por dentro.
João é um tipo comum que facilmente encontramos por aí em nossas escolas, faculdades, trabalhos, famílias, ciclos de colegas/amigos ou até mesmo na rua, vejo vários João Sofredor andando por aí vendendo uma felicidade que muito claramente não existe e que só serve para encobrir tudo o que aquela pessoa já sofreu e sofre em sua vida. Aceitam o destino sem questionar, colocam tudo na culpa do “tinha que ser assim”, pedem o sofrimento como se fosse uma benção e ainda pregam ser essa a melhor forma de viver. Esquecem de sentir as coisas e experimentar outras novas para ficarem se preenchendo da lama que as falsas alegrias dos salões de luzes neon e do coro do “Olê olá” lhes dão com mais facilidade e mais rápido.
Eu tenho um pouco de João e acredito que, se não todos, a maioria tem também, e dar vida a esse rapaz feliz mas cheio de sensações dentro dele abriu um leque de reflexões para o texto, para a peça, para a trupe e para a vida."

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Esperamos que 2015 seja tão mágico e marcante para nós da trupe quanto foi 2014. Infelizmente, Jonathas (Psicólouco) e Anna (Dominhoca) não estarão mais com a gente, mas, como toda boa trupe, nos reformularemos e nos readaptaremos para apresentar novamente esse projeto que tanto amamos. A contribuição dos dois, e de todos que participaram desse processo até aqui, estará sempre no coração da Gatilho Verbal! 

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