Atuar é doar o corpo para um ser desconhecido mas com muita história pra contar.
O ato de desprendimento de quaisquer rótulos ou pré-conceitos é o primeiro passo para o estudo, conhecimento e desenvolvimento de um personagem e sua trama.
Cada peça de roupa, maquiagem, acessório ou gesto compõe o que, no palco, será chamado de Arlete, Sodó, ou seja qual nome for dado ao conjunto de características roubadas do mundo para representa-lo de forma mais crua, ou mesmo que de modo mais sutil e indireto, mas sempre cumprindo seu papel de “cutucar a onça com a vara curta”.
Usemos nossos dois exemplos para explicar melhor o que temos a dizer:
Yara Ribeiro (Arlete)
Foto: Jéssica Ueno
Arlete; O que seria de nossa
sedutora (É?) secretária se não fosse seus longos (Cuma?) cabelos esvoaçantes
(onde?) e seu delicado olhar (tem certeza?) complementados pela camisa com o
decote das segundas intenções e pelo salto que faz seu caminhar firme
(desisto!) demonstrar todo seu jogo de sedução ao elegantíssimo Dr. Psicólouco?
Ela não seria quem é, essa mulher que nada carrega na pele a não ser a mescla da modernidade e tradicionalismo, do romantismo exposto através de uma imagem totalmente oposta, não teria o peso que tem e, tampouco, transpassaria a
imagem e mensagem que deveria.
Dan Elias (Sodó)
Foto: Jéssica Ueno
Foto: Jéssica Ueno
Sodó: E nosso alegre (xii...) social e querido músico? Já pensou se ele não tivesse seu violão lhe
acompanhando a cada passo que dá? Ele não teria a confiança (e ele tem?) estampada em suas vestimentas (um tapa na cara da ditadura da moda)
nem seria capaz (João? É você?) de expressar a agonia de milhares que sentem
mais agudamente os excessos de uma sociedade inerte na distração constante e na
globalização de tudo e todos, e nos mais contras do que prós que isso traz.
O trabalho de dar vida a um
espetáculo vai além de decorar as falas ou fazer a voz de seu personagem; É encontrar o corpo dele dentro do seu corpo e saber usa-lo. Ter intimidade com
cada poro e saber distinguir as reações que você teria sendo quem é de fato, e
as reações que este ser que habita temporariamente em seu corpo (sem
esoterismos) provocaria, e que provavelmente são bem diferentes das suas.
E, cá entre nós, não é incrível o exercício de
se ver de tantas formas diferentes no mesmo corpo? Será que esse hábito do ator
não deveria ser um hábito de qualquer um em todo o decorrer da vida? A arte que tudo embasa não teria um nome mais propício do que "a arte de experimentar?"
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